Novo disco do CPM 22 tem letras com 'carapuças de vários tamanhos'

Banda lança 'Depois de um longo inverno', independente e regado a ska.
Ao G1, grupo diz ter negado 'dia metal' do Rock in Rio para não levar 'pedrada'.

A banda CPM 22 (Foto: Divulgação)A banda CPM 22 (Foto: Divulgação)
Pela primeira vez, o ska ganha espaço no som do CPM 22, grupo de hardcore paulistano criado em 1995. "Depois de um longo inverno" é o primeiro do quarteto após saída da Arsenal Music e fim da parceria com o produtor Rick Bonadio, que durou entre 2001 e 2008.
"Sempre escrevemos a nossa verdade. Tudo o que aconteceu de bom e ruim nesses anos colocamos nas letras. Mas queríamos que tudo tivesse um clima bom, mesmo falando de algo que não nos agradou. Para criticar, não precisa fazer um som pesado, um clima pra baixo", explica ao G1 o guitarrista Luciano Garcia, principal compositor do grupo.
Para ele, quem ouvir vai entender direitinho os recados. "As letras têm carapuças de todos os tamanhos... P, M, G e GG", confirma, rindo um pouco. Entre as alfinetadas, os destaques são "Abominável" ("Graças a Deus / Você e os seus / Estão longe da minha vida") e "CPM 22", que sintetiza a carreira em versos como "Temos motivos para comemorar / Depois de muitas viagens, calotes, roubadas".
Nesta nova fase, a banda também aprendeu a dizer "não" mais vezes. Foi o que aconteceu quando receberam propostas de três gravadoras, mas preferiram seguir independentes, no selo Performance. "Não dava para ficar amarrado com verba que vem de não sei onde...",  diz Luciano. "Você chega em uma multinacional e os caras falam que não têm dinheiro. Você já brocha ali mesmo", desabafa o vocalista Badauí.
Dia metal? Nem pensar...
Outro "não", conta Luciano, foi dado para a organização do Rock in Rio. A banda teria sido chamada para tocar no 'dia metal' do festival, na vaga que ficou com o grupo Gloria. A produção do evento, por meio de sua assessoria, não confirma negociações com o CPM.
"Eles falaram: 'vocês estão confirmados'. Era só falar sim. Era no dia do metal. A gente falou: 'não, obrigado'. [risos] Como é que você vai tocar com Motörhead, Slipknot e Metallica sem tomar pedrada? Veio na minha cabeça Lobão, Carlinhos Brown...", justifica-se o guitarrista, citando artistas que foram vaiados em 1991 e 2001, respectivamente. "Poderia pôr CPM no meio de Shakira e Lenny Kravitz, tenho certeza que não teria vaia", garante o músico.
"Não adianta, os caras não gostam e pronto... Hoje fazemos o que é melhor pra banda, não importa se é Rock in Rio, Brazilian Day, o que for", atesta Badauí. "Dia metal é impossível. Brasileiro é mal educado, tá ligado?", completa o vocalista.
Os integrantes do CPM 22 (Foto: Divulgação)A banda CPM 22: Badauí (vocal), Japinha (bateria), Luciano (guitarra) e Fernando (baixo) (Foto: Divulgação)
Hoje fazemos o que é melhor pra banda, não importa se é Rock in Rio, Brazilian Day, o que for... Dia metal é impossível. Brasileiro é mal educado, tá ligado?
Badauí, vocalista do CPM 22
A banda pode até ter evitado o confronto com os metaleiros, mas não escapa da desaprovação de certos fãs. Acostumados a letras menos diretas e som mais hardcore, alguns até gostaram dos novos rumos. "Posso dizer que 90% aprovou. Tem uma galera que não gosta de ska, não porque é o CPM. Não gosta mesmo do estilo. Sempre aparecem os xiitas. Já falaram pra gente: 'os caras saíram da gravadora e se venderam'. Se alguém conhece alguma banda de ska no Brasil ou no mundo que esteja rica, me avisa", desafia Luciano.
Uma banda mais 'família'
Além de farpas para Deus e o mundo, a banda retrata o período mais maduro em trechos como "A juventude passou / Está na hora de querer um pouco mais que um refrão" (de "Na medida certa"). "Pode parecer, mas não tem nada musical. Está na hora de ter filhos, de não ser mais um cara que toca numa banda de rock", explica o guitarrista, que tem 32 anos. "O apelido da música é 'Família', só não ficou com esse nome por causa da do Titãs."
Seja ao cantar sobre desafetos ou sobre a vontade de ter filhos, o grupo não passa a mão na cabeça das crias do rock pós-CPM, encabeçado por Restart e derivados. "Tudo ficou muito leve. Falta a pegada do rock, as guitarras estão limpinhas. O vocal não tem um pingo de atitude, de você querer botar aquilo que você canta dentro da cabeça de quem ouve", opina Badauí. "Mas se a intenção é ser leve, não sou eu que vou falar que estão errados", finaliza.
By: @Otonleao